quinta-feira, julho 30, 2009

leonard cohen, "pequeno judeu"

Como diria Maria Bethânia, chique do chique DO CHIQUE. O que é este homem dançando? O que é este homem branco dançando na chuva?



O "little jew" Leonardo Coim tentava prever o futuro em 1992, e em parte ficava parecendo o passado, 1984, o ano em que George Orwell achou que ia eclodir o Grande Irmão.

Acertou tudo ("there'll be the breaking of the ancient western code", "your private life will suddenly explode" e "and the white man dancing" são tão 2009, não?) e errou tudo (embora seja cedo demais para afirmar qualquer temeridade, t'esconjuro). Como Jorge Well.

E nós aqui, conversando sobre Orwell e Cohen dentro do Grande Irmão...

(Quem decifrou o que ele diz no trecho substituído por "pim" "pim" "pins"?)

quarta-feira, julho 29, 2009

defunto pobre de luxo não precisa

Só digo uma coisa: hoje é o #MussumDay.

E Mussúmzis está em todas as bôquis twittêiris, lá no topo dos assúntis mais comentádis do planêtis, ôbis!, obâmis!

Mas, sem brincadeira agora, hoje completam-se 15 anos da morte de Antonio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum. Efemérides quase sempre são entediantes e modorrentas, mas não esta.

Afora o legado d'"Os Trapalhões" (pedaço inseparável da minha infância, portanto da minha vida inteira), Mussum foi por uma década integrante aguerrido do conjunto Os Originais do Samba. À época o que eles faziam era tido por "samba joia". O que à época era tido como pejorativo (nessa gaveta a ditabranca tentava empilhar Os Originais, Antonio Carlos & Jocafi, Benito di Paula, Baiano & Os Novos Caetanos, Wando, Bebeto etc. etc. etc.). Desde aquela época, era GENIAL. Por exemplo?

Os Originais cantaram o sambão "Cadê Tereza" (69) com Jorge Ben, mais Black Music do Brasil que Jorge Ben cantando "Cadê Tereza" (69) sozinho.



Criaram "Bacurucuco no Caterefofo" (69), mora? E "Vou Me Pirulitar" (69), também de Jorge Ben. E "Se Papai Gira" (69), idem.

Ganharam de Roberto e Erasmo Carlos o extraordinário SAMBA(-roque) "Eu Queria Era Ficar Sambando" (70) (e como duvidar que lá nas profundezas era isso mesmo que Roberto & Erasmo queriam?). Mais tarde (73), inventaram um desconcertante pot-pourri de canções de Roberto & Erasmo, colocando em tempo de sambão "Amada Amante", "Quando as Crianças Saírem de Férias", "Quando", "Todos Estão Surdos", "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" e, até, "Jesus Cristo".

A gospel-power "Jesus Cristo" em tempo de samba, cê tá entendendo?

Também encaixaram em pot-pourris sambistas artistas tão semelhantes quanto Chico Buarque e Benito di Paula.

Cantaram "É de Lei" (70), de Baden Powell e Paulo César Pinheiro (bem no início, fizeram recital com Baden e a cantora Márcia, aliás).

Do samba de fundo de quintal, devidamente blackmusiqueado, libertaram "Linha de Umbanda" (71), de Lápis (sim, Lápis). "A Subida do Morro" (71). "No Reino da Mãe do Ouro" (75). "Bate Barriga" (72). "Do Lado Direito da Rua Direita" (72), clássiquis da músiquis popularzis brasilêiris.



"Falador Passa Mal" (73) (Simonal?), outra do sambista Jorge Ben, clássiquis do samba-róquis (gênero do qual Os Originais são co-autores).



"Tragédia no Fundo do Mar (Assassinato do Camarão)" (74), nonsense absoluto (será?).



"A Dona do Primeiro Andar" (75), "estou apaixond'apaixonado estou/ pela dona do primeiro andar/ peladona do primeiro andar". Quem pode ter sido criança, jovem, adulto ou velho nos anos 70 e não se lembrar vivamente disso?

"A Vizinha (Pega Ela, Peru)" (80), esta por Mussum em carreira solo. "Nega Besta" (80), idem, composta pelo baiano-&-novo-caetano Arnaud Rodrigues, já cantada em pleno idiômis mussumzês.



"Nego Véio Quando Morre" (77) (Mussum?), mito máximo dos meus 9 anos de idade..., que reencontro agora, assombrado e estupefato, no YouTube:



A Sony Music, ex-Sony BMG, ex-BMG, ex-RCA, é dona de todo o acervo colossal d'Os Originais do Samba. Nunca reeditou em CD mais que míseros três títulos do grupo. Mas quase todos eles estão boiando aí pela internet, disponíveis para download, ao alcance dos ouvidos por meios que exus tranca-rua do conhecimento e reacionários em geral juram "ilegais".

Só que tem que reacionário racista nenhum jamais vai sobrepujar Os Originais do Samba. Mussum forévis!

segunda-feira, julho 27, 2009

não vou pro céu, mas já não vivo no chão

Pílulas de crítica musical (?!?...) via Twitter, sobre "Não Vou pro Céu, mas Já Não Vivo no Chão" (MP,B/Universal, 2009), de João Bosco.

@pdralex "Teu sorriso é uma navalha/ Que abre o meu coração", na nova "Navalha", parceria outonal de João Bosco e Aldir Blanc.

@pdralex Depois na letra seguem umas coisas de "pregado na cruz", "Cristo na Paixão", bem diferente dos Bosco-Blanc dos anos 70...

@pdralex Bosco nunca para de ficar mais e mais maneirista. Mas, putz, que GRANDE músico/compositor/artista.

@pdralex Aí as letras do Carlos Rennó... Verborrágicas... Tristonho, o disco do Bosco (até a quinta faixa).

@pdralex Sob um tanto de pompa, estão bastante tristes também as letras do filho dele, Francisco Bosco.

@pdralex Em "Tanajura" reaparece (enfim!) a linha afro-índia de Bosco, sua mais impactante invenção nos anos 80. Letra quase humorada do Francisco.

@ ericosanjuan @pdralex Ainda bem que no CD novo do João Bosco limaram aqueles scats dele. Só ele se divertia fazendo aquilo.

@pdralex Mais Bosco e Blanc, "Mentiras de Verdade": "Com a boca eu me despedi/ Minhas mãos desdisseram: não, não". Outonal, e tristíssima...

@ pdralex...E aquele simbolismo bem Aldir Blanc: "Coleira de cetim/ Quero esquecer de mim".

@ pdralex Em "Jimbo no Jazz", o parceiro é o brabo Nei Lopes, mais Aldir Blanc que o próprio Blanc!

@ pdralex Letra 100% afro do Lopes: zanga, jongo, candango, fandango, tangolomango, quenga, sacurupemba, tunga, gago, banzo, piongo, mambo...

@ pdralex Aliás, alguns ápices da poesia simbolista hiper-realista Bosco-Blanc: "De Frente pro Crime", "Caça à Raposa" (75), "O Rancho da Goiabada"...

@ pdralex ...(76), "Tiro de Misericórdia", "Linha de Passe" (77), "Comissão de Frente" (82)... Dona Elis deitou e rolou por ali...

@ mauriciostycer Crítica do novo CD de João Bosco em pílulas de 140 carac. Novidade de @pdralex

@ ericosanjuan @pdralex Só num disco de Bosco-Blanc o Paulinho da Viola diria o verso "soltar um barro"...

@ pdralex Aí Clementina gravou "Ingenuidade", em 76, aí Roberto Ribeiro regravou (79), aí Dona Inah regravou (2004), aí Caetano transambou (2009)...

@ pdralex ...Aí Bosco também regravou (2009). O autor é Serafim Adriano. Quem é Serafim Adriano?

@ laurose @pdralex Fora o violão do João Bosco não é Pedro? Cada dedo é um instrumento de escola de samba. Tenho uma teoria que ele e o Tavinho Moura

@ pdralex Tem um leve bafo pedófilo, essa "Ingenuidade", não?

@ laurose@pdralex ... mudaram o jeito de tocar violão no Brasil nos anos 70. Uma pena que ambos tenham se deslumbrado demais c/ a técnica.

@ laurose @pdralex Tavinho Moura não, Toninho Horta. Confundi os conterrâneos. Tavinho é muito bom pra se deslumbrar...

@ laurose @pdralex ... mudaram o jeito de tocar violão no Brasil nos anos 70. Uma pena que ambos tenham se deslumbrado demais c/ a técnica.

@ pdralex "Sonho de Caramujo" termina o CD magistralmente, após uns cochilos. "Eu moro dentro da casca do meu violão" (boa definição pra MPB 2009?)...

@ pdralex Moral da história? Nenhuma..

@ gafieiras @pdralex um pouco sobre serafim adriano. http://migre.me/4eEB.

@ pdralex @laurose verdade, Lauro, violão fenomenal!!! Mas às vezes parece que ainda estamos naquelas de João Gilberto...

@ pdralex @mauriciostycer :-)

@ pdralex @ericosanjuan Hahahaha! E tem gente que assusta com o linguajar, er, chulo de Bosco & Blanc, né?... Eles eram era Lula muito antes de Lula.

@ pdralex @laurose Faz sentido, sim.. Problema é que os caras (e a gente) envelhecem(os), né?...

@ pdralex @gafieiras Dafne, pelo pouco que se lê ali, Serafim parece sambista de linha popular (Agepê etc.), adotado por alguns emepebistas, né?

Apenas primeiras impressões a serem referendadas, ou não. Mas, pesquisa: você (ainda) ouve João Bosco?

quarta-feira, julho 22, 2009

quarta-feira no país das maravilhas (existe?)

Retomo agora o fio da meada do debate suscitado pelo texto copiado no tópico anterior (cruzes!), cuja íntegra existe aqui. Disse assim o Nando (vou transformar tudo em itálico e em um parágrafo só, para não confundir, combinados?):

"Pedro, devemos firmar nossas convicções tenham elas importância ou não, não é? Mesmo que aconteça 'o tempo todo'. Lembremos que Zé Ramalho quase teve sua carreira (opa) fulminada por conta de um plágio com... uma revista do Hulk (que não deu em nada porque a revista tampouco havia dado - opa - crédito ao poema original - de W.B.Yeats, pelo que me lembro. E, claro, dinheirinho sempre no meio, como no caso do George Harrison, puta bolada ele teve que pagar a quem compôs 'He's so fine'. 'Sei lá, a gente age como se 'direito autoral' fosse um conceito natural, mas não é, não é. É invenção industrial pra enriquecer engrenagens muito maiores(...)'. Hmmm. Tem um cadinho mais de complexidade aí, creio. A criatividade cria um vínculo poderoso entre nossa subjetividade e nossos atos, com um tanto de responsabilidade a ser trabalhada aí no meio, ainda mais com quem arrasta séquitos sedentos de... originalidade. Só estou aqui no seu blog porque é o SEU blog. Ou seja, pelo que você produziu, produz, produzirá. Não gosto de ser enganado, Pedro. Não gosto de ouvir 'Canto para minha morte', pensar 'Esse cara é muito foda, um gênioooo!' e depois ouvir 'Balada para mi muerte', com Piazzola e Amelita Baltar e pensar 'Piazzolla fez versão de Raulzito, o que é isso? Não. Eu é que sou um trouxa completo!'. Mas a farsa do Raul não se resume aos plágios, vai a outras esferas como a 'filosófica', a 'mística', a 'contestadora' e por aí vai. Já fui fã demais dele, hoje o considero um bom artista, com a grande sacada de fazer um puta crossover entre rock'n roll e ritmos tradicionais do nosso país. E com um humor peculiar que até hoje me faz rir. Só. O resto é uma grande enganação. Carismático, inquieto, provocador. Ok. Espetacular? Genial? Hmmm. Abraço".

Mas, então, ontem passeei pela minha amada Galeria do Rock, aqui de SP, e logo de cara tomei um baita susto: a Baratos Afins tinha mudado de nome!!!! O logotipo era o mesmo de sempre (um logotipo que, por sinal, me atiça tanto quanto - ou um pouco menos que - o da... Apple?), mas agora a loja chamava outro nome que não consigo lembrar. "Aconteceu uma tragédia!", pensei já desesperado. Mas não, não demorou para eu perceber toda a parafernália de gravação, e a Carol, filha do Luiz Calanca, me explicar que era a Globo, uma gravação da "Aline"... Ufa!

Refeito do susto, mal dei meia volta para não entrar na gravação (nem encontrei o Calanca, chuif) e, mais um susto!, trombei de cara com uma estátua do Raul Seixas em tamanho natural (também há uma outra, do Michael Jackson, mas deixa isso pra lá por ora). Era bonita, a do Raul, mas olhar pra ela me deu uma vontade de chorar... Não só de saudade daquela figura engraçada que era o Raul, mas também, e talvez principalmente, pela constatação de que já não existe mais a maioria daquelas lojinhas de CDs que quando eu cheguei em São Paulo me faziam ter tremedeira de tanto desejo (coisificado?) e de tanta "novidade" que pareciam guardar... Agora, no lugar delas, vendem camisetas, bonecos plásticos de ídolos pop, tatuagens... CD ainda existe aos montes (principalmente de heavy metal), mas no geral parece ter virado artigo de quinta linha na galeria do... rock. E ainda não conheço susto maior do que esse, musicalmente falando.

Não sei bem por que o comentário do Nando me fez imediatamente lembrar disso tudo, suponho que pela constatação de que as coisas mudam tanto e tão depressa que nem dá tempo mais de lamentar que não são mais como eram a Galeria do Rock, o Raul, o logotipo da Baratos Afins, os direitos autorais, nem a gente mesmo... E também, evidente, por esse cruzamento de referências ao Raul Seixas.

Tenho certeza de que eu começar a "defender" o Raul do "ataque" do Nando não seria um bom caminho. Não, não é o caso de transformar isso numa queda-de-braço colateral às questões de direito autoral e, principalmente, de classe na música "popular" brasileira - concorda, Nando? Por meu turno, concordo com o ângulo, totalmente coerente e plausível, com que mira o "maluco beleza", mas posso apenas somar outro, que não reafirma nem nega o seu?

Quero dizer, deixa eu (pintar o meu nariz, deixa eu) tentar reproduzir o que penso/sinto por ouvir minha adorada "Meu Amigo Pedro" (epa!) e, muito tempo depois, descobrir que a melodia foi chupada de "Billy", tama de filme de faroeste escrito pelo Bob Dylan. Penso e sinto mais ou menos assim: "Putz, que safado larápio genial esse Raul Seixas! Chupou o Dylan, e o Dylan não ficou nem sabendo! E ainda por cima fez uma música MELHOR que a (er) 'original'??! Cachorro(-urubu)!".

Bem, os gringos também copiam a gente volta e meia, né? O Rod Stewart precisou amaciar o Jorge Ben, não sei como, por ter plagiado "Taj Mahal" em "Da Ya Think I'm Sexy?". Eu também adoro o Rod Stewart dos anos 70/80 (muito menos que o Ben, mas, vá lá, os dois têm lá algum parentesco - como Zé Ramalho não deixa de parecer meio primo distante do Incrível Hulk), e não consigo deixar de gostar do "teretetetê" do loiraço ex-coveiro "só" porque ele "plagiou" meu ídolo...

Aliás, não é só ele. E os Black Eyed Peas, que enfiaram um pedação de "Cinco Minutos" dentro de "Positivity" e nem sequer colocaram Jorge Ben de coautor? (Será que o Ben chiou - alguém sabe? -, ou nem dá bola mais?) Mas, de novo, quem diz que eu consigo não gostar dos B.E.P.? (Hum, o disco novo é meio ruim, ou é impressão minha? Alguém baix... comprou? A capa é bonita, meio Matrix misturado com Incrível Hulk...)

Conclusão disso tudo aí? Sei lá! Talvez que eu tenho certa queda por certos "plagiadores"...

Outra: concordo e me envaideço com seu comentário sobre a "originalidade", mas... Acredita que quando escrevo eu não tenho a menor noção sobre se estou ou não estou plagiando alguém involuntariamente? São tantos zilhões de pessoas, para apenas 46 cromossomos... Sem contar os títulos, todos "copiados" de letras de músicas... Sei, você vai dizer que "plagiar" sem querer não se iguala a "plagiar" no veneno, e concordo também, mas... até aí morreu Neves, né?...

E, de mais a mais, sabe quantos centavos recebo em direitos autorais pelo que escrevo neste blog, pelo que estou escrevendo neste exato instante? Zero milésimo de centavo de real, ou dólar, ou yen, ou libra marciana. Se direito autoral existe, cadê o meu?!

E, desafio alguém a me convencer do contrário, isso que acabei de falar no parágrafo acima tem um outro nome, bem mais pomposo: crise do capitalismo global. Em breve Walt Disney não vai mais continuar a ganhar (ué, mas ele já não morreu, uns 50 - ou 10 mil - nos atrás?) tamanhas fortunas em cima da carcaça do Mickey Mouse, - que também, por sinal, foi "plagiado" de alguém, e não "inventado" pela originalidade de papai Disney.

Como diz minha amiga Márcia, o original não se desoriginaliza. Mas e o desoriginal, será que não se originaliza?

Não que eu aprecie ser copiado sem receber crédito, independentemente de reais, dólares, yens ou libras venusianas, mas a pulga continua atrás da minha orelha: qual será a questão real por trás disso tudo?, qual será a natureza (dinheiro? ética? originalidade?) da(s) questão(ões) por trás disso tudo?

Quem compôs "Luar do Sertão"? "Asa Branca"? "Águas de Março"? "Marinheiro Só"? "Cuidado com a Fura"? Quem é o pai da Branca de Neve, ou do Capitão Gancho? Qual é a "verdadeira" identidade do Batman, do Super-Homem, da Mulher-Maravilha? Quem tem (quem não tem?) passaporte para copiar?

E aquela outra questãozinha, sobre os preconceitos de classe? Onde encaixar? Voltamos a ela, ou deixamos para lá?

fim-de-semana em eldorado 2

Há um tópico já bem lá embaixo, chamado "fim-de-semana em eldorado", em que a discussão continua até agora a pleno vapor. Estava respondendo lá ao Nando, que foi quem manteve a chama acesa, e me ocorreu que muito mais legal seria tornar essa discussão um pouquinho mais, er, pública, menos escondida que lá na janelinha vermelha de semanas atrás - topas seguir aqui, Nando?

Vou colocar então a ideia em ação, primeiro reproduzindo o texto (da revista Cult número 137) que suscitou o diálogo com o Nando, vai ele aqui, e em seguida vem mais, no próximo tópico.


Questão de gosto?

Ainda há sumo para espremer da surrada discussão sobre o que nos leva a eleger ou rejeitar uma música ou artista

PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Johnny Alf completou 80 anos em 19 de maio de 2009, poucos meses após o encerramento do festivo ano de comemoração dos 50 anos da bossa nova. Diferentemente do movimento que ele ajudou a pavimentar e que atravessou 2008 mimado em museus, pavilhões e ocas, Johnny passou seu aniversário num hotel-residência para idosos, em Santo André, no ABC paulista.

Johnny Alf é um artista brasileiro, carioca, negro, de origem suburbana, largamente reconhecido como iniciador e inspirador de versos e notas musicais que se tornariam mundialmente consagrados como “bossa nova”. Ainda assim, parabéns a ele nesta data querida a comunidade cultural brasileira ofereceu com resistente parcimônia. Mesmo mestre inconteste (e em parte por temperamento próprio), tem se colocado historicamente à margem da bossa e de outras bossas.

Unha e carne daquele movimento foram os cariocas Tom Jobim & Vinicius de Moraes, como todo mundo sabe. Galã além (ou aquém) de gênio, Tom deslizou pela música e pela moda montado em fina estampa de garotão de Ipanema. Vinicius era ex-estudante em Oxford, ex-crítico cinematográfico, poeta consagrado e ex-diplomata em Los Angeles e Paris quando, já maduro, vestiu melodias em versos como tristeza não tem fim/ felicidade, sim.

João Gilberto, 78 anos recém-completos (como será a fatídica efeméride de seu 80o aniversário?), é baiano interiorano, de Juazeiro. Mas nasceu filho de pais prósperos e dono futuro de uma batida de violão que o diferenciaria de todos os demais mortais. A partir de 1958, gravitariam em torno de sua aura dezenas de jovens músicos oriundos da brisa zona sul do Rio de Janeiro (e do sexo masculino, em maioria absoluta, mais uma Nara Leão aqui, outra ali).

Roberto Carlos, 50 anos de carreira musical nesta noite, tentou fazer bossa nova antes de virar Roberto Carlos. Vindo do interior do Espírito Santo, Cachoeiro do Itapemirim, principiou perseguindo as modas da hora, notadamente aquela orquestrada pela voz pequena de João Gilberto. Surgiu, é fato, titubeante e desoriento, mas, como todo mundo sabe, não é verdade que talento não possuísse. É pública e notória a historinha de que ao tentar se intrometer nas rodas finas da bossa foi congelado pelo desprezo de onze em cada dez daqueles jovens que orbitavam a lâmpada de João. Quem RC teria sido se a bossa não o tivesse desdenhado, jamais saberemos.

Assim como seus chapas Wilson Simonal, Erasmo Carlos, Jorge Ben e Tim Maia, Roberto morava no outro lado da cidade, zona norte, subúrbio. Para encontrar afluentes desobstruídos do rio chamado sucesso, precisaram, cada um à sua maneira, contornar a pontuda ilhota da bossa nova e inventar suas próprias engenhocas musicais, de preferência bem distantes da língua materna.

Não se está tentando dizer aqui que a bossa nova era (e é) um castelo elitizado ao sopé do terreiro depois batizado de MPB, música POPULAR brasileira. Era e é, e também isso todo mundo sabe. O que aqui se quer afirmar é que esse castelo (o da MPB como um todo) foi construído sobre a lógica violenta da luta de classes. [O mesmo eu poderia falar de minha própria profissão, o jornalismo, mas isto é outra conversa.]

Ou não seriam de origem social e tom da pele as mais gritantes diferenças entre Tom & João, de um lado, e Johnny Alf, do outro? Consta que Jobim chamava Johnny de “Genialf”, mas isso nunca foi divulgado pelo autor de Eu e a Brisa, nem foi legitimado pela comunidade que, insinuava o próprio maestro soberano, tinha (tem?) vergonha de ser brasileira. E essa é uma história corriqueira, exemplos se amontoam.

Antes de se tornar política e eticamente condenável, Simonal se tornou musicalmente grosseiro, pilantra, artífice da “pilantragem”, inverso simétrico (e negro) das sutilezas e dos maneirismos de outras bossas. Talvez tenha perdido a chance do perdão antes mesmo de - digamos em termos puritanos - pecar.

Para se tornar semi-unanimidade, a suburbana gaúcha algo abrutalhada Elis Regina teve de passar por um longo e dolorido processo de... “depuração”, “sofisticação”. O preço foi provavelmente alto demais para uma indomável que se tentava domesticar.

Jorge Ben (Jor) faz a turma toda dançar até o sol raiar, mas a oalguém escuta a oficialidade bradar que Jorge é João, que Jorge é gênio, que Jorge é Jobim? Por que será que não?

No seio da música mais popular brasileira, aquela à que foi negado o título de nobreza (fajuta?) “MPB”, a sutileza jamais foi reconhecida. Não faz diferença se é Waldick Soriano ou Odair José, o sujeito que venha de fora do eixo político-geográfico e não seja escolado está desde o berço condenado a não ter bossa, a não ser tropical(ista), a não saber fazer MPB. Sobre isso Paulo César de Araújo discorreu brilhantemente no libertário livro Eu Não Sou Cachorro, Não – Música Popular Cafona e Ditadura Militar (Record, 2002).

Chego finalmente à afirmação que mais gostaria de fazer. Somos (fomos?) uma coletividade que finge se importar (e se incomodar) com música baseada em critérios estritamente estéticos. É mentira. Do alto de nossos pedestais, costumamos discursar aos sete ventos contra a suposta “pobreza” musical de baladas românticas, boleros, modas sertanejas, raps e funks “americanizados”, pagodes “mauricinhos” (mas quem são mesmo os mauricinhos, cara-pálida?).

É mentira. Apreciação estética está lá atrás em nossas listas de prioridades – não raro enchemos a boca para miar que não ouvimos e não gostamos deste ou daquele “cafona”. Não, os regentes de nossos “gostos” e “sensibilidades” musicais são mesmo os nossos preconceitos - sobre cor da pele, status social, sexo, orientação sexual, escolaridade ou o que for. A estética, coitada, é o bode expiatório que paga todo o pato. Não fosse assim, Johnny Alf talvez morasse dentro do castelo da MPB. Mas aí Johnny Alf não seria Johnny Alf.

sexta-feira, julho 17, 2009

pão & circo

Este texto foi publicado na edição 551 (24 de junho de 2009) da "CartaCapital", sob o título "Currículo oculto". O Barenbein, depois, disse que gostou, e retificou apenas um dado: ele atualmente é produtor musical da Record, e não "diretor musical".



POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Manoel Barenbein não é um nome nem um rosto largamente conhecido. Mas completa neste ano uma rota de 50 anos dedicados (com algumas interrupções) ao ofício da música brasileira. Mesmo anônimo perante a maioria do público, esse paranaense de 66 anos foi o produtor por trás de marcos musicais como A Banda e Roda Viva, com Chico Buarque, Alegria, Alegria e Tropicália, com Caetano Veloso, Domingo no Parque e Aquele Abraço, com Gilberto Gil, Baby e Divino, Maravilhoso, com Gal Costa, País Tropical e Que Pena, com Jorge Ben(Jor) e Vem Quente Que Eu Estou Fervendo e De Noite na Cama, com Erasmo Carlos, entre inúmeros outros.

Técnico de som do histórico show Dois na Bossa, que uniu Elis Regina e Jair Rodrigues e ajudou a fundar a sigla MPB, Barenbein tomou rumos mais discretos que os dos medalhões de sua geração. Há pouco viu chegar às lojas o primeiro disco de um colega de geração a conter sua assinatura à frente desde o início dos anos 1970. Reaparece como diretor musical de Festa para um Rei Negro (Universal), CD e DVD de comemoração dos 50 anos de carreira e 70 de vida de Jair Rodrigues. Barenbein produzira todos os discos de Jair entre 1968 e 1971, o que engloba sucessos como Casa de Bamba, Pra Que Dinheiro, Irmãos Coragem e Festa para um Rei Negro.

Antes do hiato, passou à história como produtor de rigorosamente todos os discos do movimento tropicalista gravados na Philips brasileira, entre 1967 e 1969. Tornou-se, como era próprio da brechtiana linguagem tropicalista, um produtor que aparecia dentro das músicas. Em Pega a Voga, Cabeludo (1968), Gilberto Gil e os Mutantes cantavam em coro: Ê, Manoel, para de encher!

“É, tinha ‘Manoel, me dá um cricri’... Era uma coisa divertida, não tinha uma lógica. Essas coisas eram mais dos Mutantes, brincadeira deles mesmo, descontração”, esquiva-se, sorridente, de justificar sua popularidade naqueles discos.

Em 1971, quando boa parte da tropicália e da MPB se espalhavam em diáspora pela Europa, Barenbein mudou-se para a Itália, onde trabalhou na filial local da Philips. Na volta, por razões até hoje difíceis de compreender, não se reaproximou do elenco que ajudou a impulsionar, e que incluiu ainda Nara Leão, Maria Bethânia, Marília Medalha, Toquinho, Claudette Soares, Rita Lee.

Diz que não houve desavença alguma na partida para a Itália: “Ao contrário, tanto que dois anos depois voltei para a companhia. O que tem é que André (Midani, presidente da Philips brasileira à época) me chama de louco, de ter largado tudo que eu tinha para ir para a Itália ser assistente de produção”.

E explica: “Fui recomeçar uma coisa minha, eu estava em busca de alguma coisa diferente, de alguma abertura. Segui por outros caminhos. Na realidade a separação, a minha ida para a Itália, mudou meu relacionamento. Obviamente, o espaço foi ocupado, e você volta para fazer outras coisas”.

Lidar com televisão, mas ainda com música, foi uma dessas coisas. Trabalhou no SBT nos anos 1980 e novamente nos 2000. No intervalo, abriu uma gravadora independente, depois um escritório para empresariar novos artistas. “E uma coisa complicada de fazer. Não deu certo”, diz. Há quatro anos tornou-se diretor musical da Rede Record, onde coordena trilhas sonoras de novelas e do reality show A Fazenda, entre outros programas.

Conduzida pela cantora e compositora gaúcha Laura Finocchiaro, a intricada sonorização do reality show suscita a reflexão de Barenbein sobre as transformações tecnológicas que o meio musical não para de viver. “Comecei a viver um mundo que mudou. A tecnologia é um mundo à parte para mim, não me desenvolvi com ela”.

O produtor exemplifica: “Obviamente sei quando o som está certo ou errado, o que não sei é chegar no computador, no pro-tools, com todos os seus apetrechos. Para quem viveu como eu e gravou com dois canais, hoje ter 54, poder transportar com o mouse uma nota do instrumento e substituí-la por outra... Tem horas que isso tudo é um choque para mim.”

Os Barenbein, conta, eram judeus de origem polonesa. “Meu pai nasceu numa cidade que era fronteira da Rússia com a Polônia. Então ele era russo quando os russos invadiam e virava polonês quando os russos iam embora. A Rússia tinha invadido e tomava conta, e ele foi convocado para o exército russo. Fez sentinela a 23 graus abaixo de zero.”

O pai veio parar em Ponta Grossa (PR), onde teve distribuidora de cereais, depois posto de combustível, ficou doente, vendeu tudo para pagar as dívidas e migrou para São Paulo, quando Manoel tinha 7 anos. “Aqui, meu pai e minha mãe faziam um trabalho que faziam os imigrantes, principalmente os judeus e os de origem árabe. Eram mascates. Enchiam duas malas de roupa, pegavam o trem e iam para São Bernardo, São Caetano. Prédios não havia, eram casas, você podia bater à porta e oferecer coisas. Hoje não tem mais como fazer isso”, evoca.

Embora classifique os anos na Philips brasileira (de 1967 a 1971) e o tempo da invenção tropicalista como o “momento mais importante da minha vida”, vinha de longe sua ligação com a indústria musical. Na adolescência, por paixão pessoal, viveu entranhado no mundo do rádio, onde se iniciou em 1959. Aos 16 anos, conseguiu por intermédio de um amigo em comum acesso ao bastidor do programa de Walter Silva, o Pica-Pau, na Rádio Record.

“Fui, sentei lá na mesa, tocou o telefone, instintivamente eu atendi. Até hoje todo mundo tira sarro de mim, como toca um telefone e você já vai pondo a mão? Comecei a ir lá para atender telefone. Virei uma espécie de assistente do Walter”.

Quando o pai adoeceu novamente, precisou formalizar um emprego, e foi ser office-boy da gravadora RGE, onde Silva também trabalhava. “Naquele tempo não havia contradição”, ri. “Apesar de trabalhar em rádio, ele trabalhava na divulgação da RGE. Fui para lá, meu primeiro chefe foi José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. Numa analogia com hoje, Boni era o diretor de marketing, e Pica-Pau, o gerente.”

De boy, passou a assistente de divulgação. O primeiro trabalho foi levar a um radialista o disco com Balada do Homem sem Deus (1959), na voz de Agostinho dos Santos. Em 1961 seria o divulgador do primeiro e imaturo disco da então adolescente Elis Regina, pela gravadora Continental.

O primeiro trabalho como produtor viria somente em 1966, quando descobriu Toquinho e convenceu a RGE a lançar seu LP de estreia. Em menos de dois anos, produziu discos de Zimbo Trio, Walter Santos, Claudia, Claudia Barroso e Erasmo Carlos. O ponto alto desse período se deu no primeiro álbum de Chico Buarque (com A Banda, Pedro Pedreiro e Olê Olá), ainda em 1966.

Lembra-se de Chico quando discorre sobre a fase italiana: “Lá cheguei a coordenar a produção de um compositor que ninguém queria como cantor, e ele também não queria gravar. Era Umberto Balsamo, sua primeira gravação, Natali. Repetiu-se um pouco a história de Chico Buarque, que no primeiro momento também não queria gravar”.

A partir de A Banda, integrou-se à era dos festivais e encontrou passaporte para a Philips, então em transição para se tornar, anos 1970 adentro, a gravadora mais disposta a ousar e lançar novos artistas no Brasil. O envolvimento máximo se daria no festival da Record de 1967, cujo repertório a Philips gravou em três discos. “Das 36 músicas classificadas, gravei 23 aqui em São Paulo. Seriam 24, mas Ponteio (que seria a vencedora) acabou indo para o Rio, porque Edu Lobo se sentia melhor gravando lá. Entre essas 23 estavam Domingo no Parque, Alegria, Alegria, Eu e a Brisa (de Johnny Alf, desclassificada antes da final).”

Começava a fumegar a locomotiva tropicalista, que, segundo ele veio concretizar as suas melhores expectativas. “O encontro com Caetano, Gil, os Mutantes e Rogério Duprat (o maestro por trás de grande parte dos anárquicos arranjos tropicalistas) era uma coisa que eu já sonhava. Na RGE eu convivia com Chico de um lado e com Erasmo do outro”, rememora. “Eu tinha um desespero de querer ver como ficaria a música brasileira não com o ritmo do iê-iê-iê, mas com alguma coisa da identidade dela e usando baixo elétrico, guitarra elétrica, uma sonoridade que vinha dos Beatles. Como seria a música brasileira fazendo isso? O destino quis que eu fosse parar ali.”

As experiências de seu “momento mais importante” ele veio reviver nestes anos 2000, não só no reencontro com Jair Rodrigues, mas também na produção do show de Caetano Veloso nos 450 anos de São Paulo, no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João. Jair cantou com Caetano um pot-pourri de Dois na Bossa, que Barenbein recorda com gosto: “Foi fantástico, eles inverteram as vozes. Jair cantou a parte da Elis e Caetano cantou a parte do Jair. Rever aquele momento, com público, exatamente como foi no Teatro Paramount, são momentos que matam”.

Se hoje, nas trilhas da Record, busca revelar vozes novas como Mariana Belém (filha de Fafá de Belém), Mariana Bravo e Cláudia Gomes, na volta da Itália a garimpagem pelo novo tomou contornos curiosos, e até hoje nunca estudados com seriedade. Recontratado pela RGE, Barenbein passou a gravar artistas com nomes como Paul Denver, Tony Stevens, David D. Robinson, Harmony Cats.

Talvez ele tivesse voltado americanizado da Itália, mas não, não virara produtor de artistas estrangeiros. Eram todos brasileiros. É que em 1974 um certo Morris Albert (na realidade Maurício Alberto) estourara nas paradas de sucesso com a balada Feelings, e essa se tornou entre os diretores de gravadoras uma tendência a ser perseguida.

Ainda na Philips, ele assistira à criação de Pete Dunaway (Otávio Augusto, que segundo Barenbein era sobrinho de Boni) e Mark Davis, futuro Fábio Jr. Tony Stevens era Jessé, David D. Robinson era Dudu França, Chrystian faria sucesso mais tarde em dupla sertaneja com Ralf. “Boa parte desses nomes fui eu que inventei”, diverte-se o produtor.

Ele justifica a construção de ídolos românticos de que os brasileiros não conheciam nem sequer os rostos, diligentemente mantidos em segredo pelas gravadoras: “Quando cheguei à RGE, o Brasil estava meio fechado. De um lado estavam a Philips e a Odeon com MPB, eu não tinha nem como concorrer pela força, pelo catálogo e pelo elenco que tinham. E do outro lado havia Continental e Copacabana, com elencos populares, eu também não tinha como concorrer. E a gente decidiu apostar nesse mercado em inglês.”

Haveria algum paralelo possível entre a tropicália e a onda dos ídolos “estrangeiros” sem rosto? Seria um movimento herança do outro? “Não, a tropicália não era cantada em inglês, não era para passar como gravação internacional. Essa outra onda era para dizer que a gente conseguia fazer um internacional tão bom quanto o importado, que tínhamos artistas que podem cantar em inglês”, responde, antes de partir, ainda pela manhã, para um dia cheio de trabalho com A Fazenda.

domingo, julho 12, 2009

...meu olhar se perde na poeira...

Ontem à noite, lá no Twitter, meu @pdralex fez uns comentários talvez um tanto embebidos em vinho sobre o especial de Roberto Carlos no Maracanã.

Mas, revendo hoje, creio que posso repeti-los todos, os comentários, sem muitas vírgulas ou reparos.

O reencontro com Erasmo Carlos foi absolutamente emocionante, à parte os clichês à la "Amigo". "Sentado à Beira do Caminho", lançada quando Roberto desembarcara da jovem guarda e quando o principal (e fundamental) parceiro deu uma descarrilada por não saber que caminho tomar, sempre foi o tema de Erasmo, por excelência. Mas, quando Roberto foi vencido pela emoção (isso não é assim tão frequente, à parte os clichês de "Emoções") e se deixou desmontar e desmoronar (é raro, raríssimo, isso acontecer, não?), ele ficou de repente com uma expressão de "Sentado à Beira do Caminho" que eu nunca havia visto no rosto (e no corpo) dele. Arrepiante (e muito adequada de notar, nestes dias de frisson-Michael-Jackson), a mecânica da solidão e do abandono no rosto (e no corpo) daquele(s) que tem bem mais de 1 milhão de "amigos".

Mas, "Sentado à Beira do Caminho" à parte, o momento matador, para mim, foi a sequência formada por "Aquela Casa Simples" (uma maravilhosa e bem pouco percebida canção de 1986), "Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo" (1979, para o pai) e "Lady Laura" (1978, para a mãe). Fusão das memórias dos pais e da casa de origem, aquele bloco foi mais ou menos o que viria a desaguar depois em "Sentado à Beira do Caminho": a retórica da solidão e do abandono condensadas e sublimadas no rosto (e no corpo) do homem com o olhar mais triste que já existiu.

(Ai, e não me vem com aquele nhenhenhém de "especial de RC já basta o de Natal"... É tão fácil mudar o canal, e são tantos os canais. Mas, como o Twitter bem demonstrou, quase ninguém saiu de casa - nem da tela da dona Globo - ontem à noite. Seja sob sorrisos ou muxoxos, pouquíssimos de nós ficam incólume à passagem da história em frente de nossos metálicos narizes. E eu, apesar de ter demorado horrores para aderir, amo o Twitter!)

quarta-feira, julho 08, 2009

...por descuido abriu uma carta que voltou...

Alguém me belisca, pra eu ter certeza de que estou mesmo acordado?

Tomei um susto que me abriu a boca quando fui lá no meu e-mail UOL (que anda quase completamente abandonado apesar de eu ser assinante do dito cujo UOL) e encontrei a seguinte mensagem, sob o título "O Clube UOL tem um recado importante para você!" (os grifos e itálicos são devidamente meus):

"Estamos readequando a categoria dos nossos assinantes no Clube UOL conforme a pontuação mensal.

Como hoje você não atinge 150 pontos/mês, significa que em breve você pode deixar o Clube UOL VIP para ser incluído no Clube UOL Assinante, onde você continua participando de todas as promoções e possui ótimos descontos e benefícios - não tão exclusivos quanto os do Clube UOL VIP.

Para fazer parte do Clube UOL VIP é necessário ter mais de 9 meses ativos no UOL, somar 150 pontos/mês, onde cada Real pago no UOL vale 5 pontos e não atrasar o pagamento de nenhuma fatura.

Veja o que o UOL recomenda a você para somar 150 pontos/mês e continuar sendo um assinante VIP:

• Produtos de segurança: navegue mais seguro.
• Assistência Técnica: tenha dúvidas e problemas resolvidos.
• Emprego Certo: tenha acesso às melhores vagas do mercado.
• UOL Garantido: seguro que cobre a sua assinatura em caso
de desemprego.
• Voip: economize nas ligações.
• Wi-fi: internet sem fio em alta velocidade"
.

Signifique isso o diacho que significar, o fato é que se passaram onze horas e uns quebrados e já recebi mais um e-mail do UOL, agora sob o título "Desconsiderar mensagem do UOL" (esse nem precisa de grifo):

"Enviamos indevidamente um e-mail informando sobre a readequação da categoria do Clube UOL VIP.

Por favor, desconsidere a mensagem, você continua sendo um assinante Clube UOL VIP.

Pedimos desculpas e agradecemos a compreensão.

Aproveitamos para relembrá-lo que o novo Clube UOL foi lançado em Maio e que o Clube UOL VIP tem muito mais estabelecimentos com descontos exclusivos.

Equipe UOL
"

Até agora eu não entendi se pertenço ao clube dos adequados, dos readequados ou dos inadequados. Aliás, sendo bem sincero, quem disse que eu preciso dessa porcaria de "Clube UOL VIP" pra qualquer geringonça nesta minha pobre vida? Aliás ao quadrado, quem me perguntou se eu queria ser UOL VIP? Ninguém.

Tudo bem, dane-se. O que me aflige é outra coisa, uma outra pergunta que ronda minha cabeça feito mosca na sopa: eu entendi direito ou o portal que EU assino está esnobemente ME ameaçando, em vez de me tratar graciosamente como SEU parceiro e cliente???

OK, dr. UOL, cordeiro que sou eu obedeço e desconsidero a mensagem que não compreendi e menos ainda apreciei. Mas deixo copiadas aqui, ela e a prima grosseirona dela, com pretensões à posteridade. Quem sabe estas singelas mensagenzinhas façam o sr. se lembrar novamente de mim num futuro não muito distante, caso decida continuar mesmo com essa mania besta e belicosa - mariposa em volta da lâmpada - de agredir sua própria freguesia.

(Piky, agradecido por certas inspirações que você sabe quais são...)

segunda-feira, julho 06, 2009

fim-de-semana em eldorado

Então, prometi que trazia para cá as novidades que acontecessem: estou estreando, neste início de julho, uma coluna sobre música na revista "Cult". Acaba de ir às bancas, na edição 137, mas está disponível também na versão virtual da revista, sob o título interrogativo Questão de Gosto?. É, digamos, sobre bossa nova, e não importa se ela é black ou white (ou importa?). Encontrou?

don't matter if you're black or white

Bananal (SP), 30 de junho de 2009.