quinta-feira, dezembro 15, 2005

cultura livre, leve e solta

série jabá vol. iv, "carta capital" 368, 16 de novembro de 2005.

ou melhor, não é exatamente a continuação da série jabá. talvez seja da série pós-jabá ou antijabá vol. i, ou algo híbrido entre umas pontas e as outras. ou um passeio pelo admirável mundo novo (que, não, não tem nada a ver com o sorumbático imaginário pessimista de aldous huxley, nem muito menos com o país das maravilhas nw wave da mtv).

o que vai aí embaixo é de suma e estratégica importância, diz respeito ao futuro da humanidade em larga e dramática escala. quem orquestra o tema é o fenomenal livro "cultura livre", de lawrence lessig. que, como o link colado em cima do título aí atrás quer fazer deduzir, já está deliciosamente disponível para leitura ampla, geral, irrestrita & gratuita em português, a partir do site do habilíssimo projeto trama universitário.

a propósito, antes de entrar de vez no assunto, olha só que demais. uma idéia engenhosa do compositor, pós-doutorando e blogueiro (sim, crianças, é possível ser tudo isso ao mesmo tempo agora) henry burnett resultou num tópico empolgante, perturbador. chama-se "mil tons" o texto, que principia pela tão propalada crise da música popular brasileira para chegar a conclusões surpreendentes. para demonstrar que não, não estamos em tempos de "crise criativa", mas sim de "explosão criativa", burnett vai até o acervo digital espontâneo da trama virtual e encontra lá, naquele instante congelado no tempo, 46.587 arquivos de música disponíveis, de 17.988 artistas diferentes. a seguir burnett vai até o dicionário cravo alvim da música popular brasileira e descobre que ali estão agrupados, entre verbetes que abrangem a história da mpb em toda sua direção, 7.568 artistas - 10.000 estrelas a menos que as reunidas em tempo curtíssimo no elenco da trama virtual, como conclui o autor, ulalá, ulalá, ulalá.

crise de criatividade? mano, só se for na casa branca, no palácio do planalto, em hollywood, na globo, na "folha", na sony & bmg, na warner, na nike, na coca-cola, na c&a, no mcdonalds, no uó do borogodó. aqui ao ar livre o que se respira é criatividade, lenha na fogueira, produtividade, comunicação.

ah, mas já que um assunto puxa o outro... o henry burnett também integra um tal "coletivo mpb", um mini-coletivo de sociólogos, músicos, filósofos, compositores e professores (sim, todos eles ao mesmo tempo, agora, misturados), no texto grupal "a morte e a morte da canção", que parece conter algumas idéias avançadas sobre a mpb e o "futuro" e o "futuro" da mpb. está na densa e compenetrada revista eletrônica trópico, espia só e fica ligada, mana.

ih, que puxa, esta "pequena" introdução acabou resultando numa apetitosa trilha de miolinhos de pão, ops, de links que, atirados por joãozinho e mariazinha, vão dar numa bruxa coletiva (e nada papona) de vários bons exemplares da luta por uma produção cultural que consiga se afirmar, de algum modo, independente (ih, ficou faltando o blog do pas, né?, mas, bem, você já está nele mesmo...). então vamos nessa, que tá bom à beça, em busca da "cultura livre", em tributo à cultura (que está tentando ser) livre:


CULTURA LIVRE EM GUERRA
A gana em "preservar" o Mickey expõe as entranhas do direito autoral

Por Pedro Alexandre Sanches

Um advogado entrou em disputa judicial com Mickey Mouse. A estratégia de defesa de Mickey contou com o lobby de um congressista e ex-cantor chamado Sonny Bono, que nos anos 60 integrara a dupla de pop chiclete Sonny & Cher. O camundongo derrotou o advogado Lawrence Lessig na Suprema Corte dos EUA. Parece argumento debilóide de Hollywood, mas é a mais crua "vida real".

A história não só não é ficção como rendeu um livro que, ele próprio, também parece (mas não é) uma peça de ficção. Cultura Livre, escrito de punho próprio por Lessig e lançado em 2004, acaba de ganhar uma edição brasileira, que só pode ser adquirida de uma maneira: gratuitamente.

O pó de pirlimpimpim capaz de dar liga a todas essas peças aparentemente inverossímeis é a causa a que Lessig se empenha desde 1997: a luta pela distensão da legislação vigente de direitos autorais (os copyrights, no linguajar em inglês com que são conhecidos e protegidos em todo o planeta). Para o autor, tal legislação caducou e se tornou cerceadora voraz de liberdade de expressão e criação artística neste mundo pós-internet, download, MP3, blog, fotolog etc.

Foi essa a causa do confronto aberto entre o homem e o simpático e quase heróico rato gerado em 1928 pela imaginação de Walt Disney. Obedecendo à legislação de proteção de copyright, em 1998, ao completar 70 anos de idade, Mickey adquiriria maioridade e ficaria independente de papai Disney. Cairia em domínio público e passaria a ser livremente manipulável não só pelo conglomerado que seu criador deixou como herança, mas por qualquer um, com qualquer finalidade, comercial ou não.

A Disney se apavorou com a idéia de perder a varinha de condão de lucro que as orelhas redondas do camundongo propiciavam por quase quatro gerações. Lessig não conseguiu barrar a aprovação do Ato Sonny Bono no Congresso, que estendeu por mais 20 anos, até 2018, a escravidão de Mickey (e de toda e qualquer obra criativa de faixa etária semelhante). O político Bono morrera pouco antes, e virou nome de lei porque, segundo teria afirmado sua viúva, acreditava que o copyright deveria ser eterno.

Segundo defende Lessig em Cultura Livre, não foi a convicção dos congressistas, mas sim um forte lobby econômico que deu vitória à perpetuação da proteção. Em 1790, a primeira lei de copyright estipulou que as criações seriam protegidas por 14 anos; de 1962 para cá, sob pressão de uma indústria cultural em brutal ascensão, houve 11 prorrogações consecutivas, rumo, talvez, à eternidade sonhada por Sonny.

De acordo com Lessig, dez dos 13 congressistas empenhados na aprovação do Ato Sonny Bono teriam sido irrigados pela Disney com o máximo de contribuição eleitoral permitida por lei. O conglomerado formado pelas maiores produtoras de cinema e gravadoras de discos dos EUA teria gastado US$ 1,5 milhão em lobby eleitoral em 1998, US$ 200 mil dos quais teriam ido diretamente para contribuições de campanha. "Estima-se que a Disney tenha contribuído com mais de US$ 800 mil para campanhas de reeleição na época", escreve.

O livro esmiúça esse e outros embates entre aqueles que apelida de "guerreiros" e "extremistas" do copyright e o seu próprio grupo, tachado pelos opositores como "esquerdista" e, idem, "extremista". Defende a idéia avessa, do copyleft e dos chamados Creative Commons, contracorrente que defende, em vez do lema de "todos os direitos reservados", um outro mais tolerante e maleável, de "alguns direitos reservados".

No percurso, aborda uma série saborosa de exemplos e estudos de caso, demonstrando que os que hoje mais se debatem contra a pirataria on-line fundaram seus próprios impérios na prática da... pirataria.

Relembra, por exemplo, que Mickey Mouse veio ao mundo no desenho animado Steamboat Willie, uma paródia do filme Steamboat Bill, Jr., do comediante Buster Keaton, que por sua vez se referia à música Steamboat Bill. Acrescenta que grande parte da obra cinematográfica de Disney (Branca de Neve, Pinóquio, Cinderela...) era apropriação criativa, sem copyright, de contos de fadas de Irmãos Grimm e anexos.

"A indústria cinematográfica de Hollywood foi construída por piratas em fuga", provoca, descrevendo a migração de criadores para a Califórnia, no início do século XX, para escapar ao controle de patentes.

Lessig insiste em repetir que não, não é portador de idéias subversivas ou radicais. A necessidade, argumenta, é de que se revise uma legislação pública que, desde o advento da internet, vem abocanhando nacos polpudos antes pertencentes à vida privada dos cidadãos. Coibir com processos milionários adolescentes que fazem troca virtual caseira e não comercial de música seria, para ele, um modo de travestir de suposto interesse público a defesa oligopolista de interesses comerciais privados.

Ao longo do livro, o autor oferece alternativas em abundância para um modelo de coexistência entre os dois pólos, em que objetivos privados não continuassem a agir como bloqueadores de cultura e controladores de criatividade.

Por impalpáveis que possam parecer, tais alternativas já são testadas na vida prática, como no caso dos criadores que optam pela licença do Creative Commons (www.creativecommons.org), pela idéia de "generosidade intelectual" em oposição à de "proteção intelectual".

O Brasil seria um foco privilegiado de disseminação dessas experiências, segundo expõe no prefácio à edição local o advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas Ronaldo Lemos, que coordena o projeto Creative Commons no País.

Por sinal, Lessig cita nominalmente o Ministério da Cultura de Gilberto Gil, um dos que endossaram em termos artísticos e políticos a ideologia de Creative Commons. O diretor de políticas digitais do MinC, Cláudio Prado, refaz o nexo a CartaCapital: "Gil é o único ministro de Estado a dizer que o copyright não serve para o século XXI e que a distribuição digital requer uma regulação totalmente nova".

O prefácio de Lemos fala, por exemplo, do Portal Domínio Público (www. dominiopublico.gov.br), mantido pelo Ministério da Educação, em que podem ser baixadas e impressas livremente cópias de obras em domínio público, da popular literatura de Machado de Assis a textos raros do dramaturgo Qorpo Santo. Ícone dramático da literatura brasileira, a Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, foi das primeiras obras a receber alforria no ciberespaço verde-amarelo.

Outro caso citado é o do município pernambucano de Olinda, que aderiu em bloco aos Creative Commons e prepara projeto de documentação virtual de conteúdo livre de carnaval, música pop, teatro, patrimônio histórico etc., a ser usado livremente, em escala global.

Em entrevista, Lemos menciona um ponto de perigo, contrabalançando com a celebração do diretor do MinC: "A posição do Brasil é preocupante. O País sofre pressões dos mais diversos agentes para que sua legislação se torne cada vez mais parecida com a dos EUA. As mudanças que a indústria norte-americana tenta impor aos demais países são totalmente injustificáveis do ponto de vista econômico e social. Nesse sentido, sou bastante pessimista, pois essas pressões são muito fortes".

Além de pessimista, Lemos também é a ponte que nos reconduz ao aparente enredo de ficção dos parágrafos iniciais. Foi ele o intermediário que levou a obra de Lessig à gravadora independente Trama e à editora Francis, que acabaram executando a prensagem em português de Cultura Livre. O livro foi traduzido dentro do sistema Creative Commons (e de uma quantidade exagerada de erros de gramática, revisão e afins), sem qualquer custo imposto aos editores, desde que não seja distribuído com fins comerciais.

O projeto Trama Universitário bancou e reservou 250 cópias gratuitas do livro para presentear cada um dos participantes do II Encontro Nacional de Mídia Universitária, em setembro. Um segundo lote será enviado, também gratuitamente, a mil bibliotecas e universidades Brasil afora. "Convivemos com dois mundos, temos uma gravadora e uma editora tradicional, mas ao mesmo tempo queremos os novos caminhos, que já estão bastante infiltrados na sociedade", justifica André Szajman, um dos co-presidentes da Trama.

De quebra, afirma que, antes do fim do ano, Cultura Livre deverá estar disponível em www.tramauniversitario.com.br, para leitura e impressão gratuita (e não comercial). Por ora, o livro mantém-se fora das livrarias tradicionais, que não costumam veicular esse modelo gratuito de literatura de não-ficção.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

o ioiô de iaiá

são de ler de olhos esbugalhados as cartas de amor enviadas por carmen miranda a um namorado casual nos idos de 1945, de que ruy castro reproduz trechos em "carmen - uma biografia", recém-arremessada nas livrarias.

carmen então já começava a descender nos cartazes cinematográficos de hollywood, onde morava e trabalhava (feito uma escrava branca) desde 1939. o mancebo a quem se destinavam as declarações era um tenente-aviador brasileiro que andara de passagem pelos e.e.u.u. - vieram dar no brasil, as cartas derramadas pela mulher que já acumulava, naquela ocasião, 36 anos de vida.

coloque reparo, dona moça, por favor, na névoa de infantilismo retardatário que vinha junto com o bafo do uso abusivo/abusado/abusador dos diminutivos na retórica da pequena notável.

ponha tento, seu moço, por favor, na identidade fraturada, triturada e esfrangalhada que a pequena notável deixava o namorico entrever no pandemônio de um intercâmbio feérico (como adjetivaria o biógrafo) de pronomes "ela", "ele", "você", "meu", "minha", "seu" & que tais, que pulavam fora do papel feito pipoca em chapa quente.

abram-se todos os olhos, pore favor, para a bruta confusão, ali delineada de raspão, entre amor e dinheiro ("dinheiro", o apelido mais precário da palavra "amor") pela iaiá de ioiô, pelo ioiô de iaiá.

vem, carmen:

"querido, já fazem uns bons sete anos que não pego numa pena para escrever uma cartinha de amor. talvez porque tenha andado muito ocupada com minha vida, ou talvez o 'tal' que merecesse a carta não tivesse aparecido.

mas você chegou com essa carinha muito safadinha, me pegou distraída descansando, precisando de amor e, já sabe, abusou da situação e instalou-se confortavelmente dentro delinha e pronto... cá está ela bancando a garota de colégio de quinze anos, boba e enrabichada.

faço questão, querido, que ele saiba que o mês que ela passou com ele foi o mais gostoso, o 'mais feliz' durante os seis anos que ela está na américa. como você encheu a vidinha dela, querido, completamente. não faltou nadinha, ficou estourando de cheinha, meu amor.

tudo é tão gostoso com ele, querido, ela se sente uma completa garota, louquinha, sabe? uma garota muito safadinha que topa todas as loucurinhas que ele qué. 'xi, que vergonha!', mas é tudo tão gostoso com ele, tão diferente, queridinho meu.

ela adora ele, qué ele todinhozinho para ela se diverti, meu amor. e como ela se divertiria com ele, querido, nem queira sabê.

mas também brigaria com ele 'pra caralho'. bem, só de vez em quando.

sabe por quê, querido? porque ela tem muito 'ciuminho' dele! porque ele é muito safadinho e ela 'tacaria o braço' nele muitas vezes, quando ele fizesse alguma sacanagenzinha com ela, sabe? (...)

e os dez dias na minha casinha, que dias, meu amor, como maridinho e mulherzinha; o nosso cafezinho de manhã; o jantarzinho juntinhos e as noitinhas quando ele ficava esperando elazinha no quartinho de camisinha preta e levantava as cobertinhas, ela estava dentro dos lençoizinhos e ele beijava ela muito, com muito amor, e às vezes deitava a cabecinha nos peitinhos dela bem gordinhos, lembra? (...)

que coisa doidinha, meu amozinzinzinzim, eu te quero muito muito, sabe? (...)

meu maridinhozinho, estou escrevendo pa ele olhando o retratinho dele, que ela trouxe com ela, que ela adora, com aquela carinha safadinha que ela acha um amor, e aquela boquinha que ela daria neste momento não sei o quê para beijar ela muito muito muito.

querido, poderia seguir escrevendo a ele toda noite, pois adoro conversar com ele. mas ela precisa mimi.

e por falar em 'mimizinho', como vai a sua lingüinha que ela adora? e que é uma coisinha louquinha? bem, eu vou lhe fazer uma 'proposta': cem dólares cada mimizinha. com uma por noite o sr. farzia a sua féria e ganhava mais do que o van johnson. que tal? (...)

meu amorzinzinzinho queridinho dela gostosinho, escreve, querido, escreve muito. convence a elinha que ele ainda quer muito bem a ela. (...)

da sua rolinha.

essa cartinha, querido, quem escreveu foi a sua garotinha que você deixou na américa, querido, em hollywood, a sua garotinha safadinha.

qualquer dia o senhor receberá uma da sua mulherzinha, da sua amantezinha, mas eu tenho as minhas desconfianças que ele topa mais a garotinha".

dos pronomes todos, "eu" é o único que carmen não usou nenhuma vez, pelo menos não nos trechos que o ruy transcreveu às páginas 399 e 400. até ali, o biógrafo parecia dedicar todo seu esforço para fingir que acredita que a biografada era uma fortaleza sem conflitos nem nuances (ou seja, para simular que a defende e a respeita?...). e é só ali, nos trechos transcritos e na análise acurada que castro faz sobre aquela miranda das cartinhas, que se começa a entender minimamente quem é que ela era, de que é que ela sofria, o que é que a (não) baiana (não) tinha.

é triste à beça, dá vontade de chorar (e mais apego ainda pela pequena notável, sim, é claro) - mas é melhor nos sabermos do que não nos sabermos, não?

domingo, dezembro 11, 2005

volta pra cima

márcia e alessandra, vim cá para o vi mercado cultural da bahia, que reúne num grande feirão artistas dos mais variados estados brasileiros, do extremo sul do rio grande ao extremo norte do pará, e de países como argentina, colômbia, austrália, finlândia etc.

mas, sabe?, na praça campo grande, bem aqui ao lado do hotel e do teatro castro alves, está acontecendo a ii feira de empreendedoras(es) afrodescendentes de salvador. ei, cês tão ligadas nesse formato aí, "empreendedoras(es)"? por conta da(o)s empreendedora(e)s, tenho passeado entre bonecas negras fashion, bancas de cds (não piratas) de hip hop, estandes do tipo "movimento de cultura popular do subúrbio", tendas de penteados afro e slogans como "vamos denegrir a mídia".

ontem, tirei um cochilo depois do almoço e acordei com uma voz familiar cantando, lá no palco afrodescentente, uma música paulista, paulo vanzolini grátis para o povo da praça: "reconhece a queda e não desanima/ levanta, sacode a poeira, dá volta por cima". era elza soares quem cantava.

por último e mais importante: o lema da feira de empreendedoras(es) afrodescendentes - ou seja, brasileiras(os) - é o seguinte: "século xxi: o século da reparação".

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no pelourinho, eu passo pelo negro trabalhador e ele pede a latinha de cerveja, reciclagem, mora?

- ainda tem cerveja. - eu me desculpo.

também branco, outro rapaz passa pelo mesmo negro trabalhador, que também lhe pede a latinha de cerveja, reciclagem, mora?

- latinha é o caralho. - agride o branco boçal.

ante a agressão do branco boçal, o negro trabalhador abaixa os olhos, submisso, impassível. o mal praticado pelo branco boçal é profundo, irremediável.

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"século xxi, o século da reparação", cê não tá entendendo nada, branco boçal.

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de volta do pelourinho pela madrugada, pedi um recibo para o taxista. ele preenchia, preenchia e preenchia, até que perguntou: "hoje é dia 4?". algo me dizia que não era dia 4 (era 11), mas não houve negócio aqui dentro da água de coco, não consegui lembrar se era ou não era dia 4.

- deixa em branco o dia, que depois eu preencho. - sugeri.

- ih, agora já foi. - retrucou, enquanto preenchia, preenchia, preenchia.

de tanto que preencheu, me entregou o recibo, enquanto eu pulava para fora do táxi, pulava para dentro do hotel, pulava para fora do mundo.

o recibo que ele me entregou estava em branco.

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"século xxi, o século da reparação", cê tá entendendo?

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mas também converso com a mãe-de-santo que é líder comunitária que é militante da consciência negra e que já esteve cara a cara com lula, olho no olho, em brasília, no planalto, no alvorada.

ela conta que guiou outro dia uma psicóloga branca, pasma diante das "adivinhações" da, opinou que a sacerdotisa negra levava maior jeito para psicóloga. coincidência, a mãe de santo contou à psicóloga que o sonho de sua vida era ser psicóloga. mas que teve de parar os estudos em prol da sobrevivência, não lhe foi possível continuar.

do encontro entre psicóloga branca e sacerdotisa negra para cá, a mãe-de-santo voltou a estudar, pegou nos livros após 20 anos de desquite. vai bem em todas as matérias, mas matemática é o grande problema.

enquanto pensa em desistir do vestibular, por medo da matemática, arma com um coletivo de terreiros de candomblé um curso oficial pré-vestibular, a ser ministrado exclusivamente pelas comunidades.

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"século xxi, o século da reparação", cê tá participando?

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ah, mas a elza soares, a elza empreendedora afrocarioca rascando a garganta, a voz suspensa no ar feito beija-flor entre as árvores da praça campo grande, que é do povo como o céu e a terra são do paulo vanzolini...

(e a sensação forte, corcoveante, de que a bahia É cuba, de que cuba É a bahia...)

acho que já sabia (ó, clichê) que a bahia pulsa música em cada esquina (e, não, já não há mais a hegemonia axé, pelo menos não foi o que ouvi em cada esquina nestes dias de mercado cultural, feira afrodescendente & muito mais). posso até estar hipnotizado, mas o que vi, nestes quatro dias, é que hoje a bahia pulsa e respira música e consciência negra a cada esquina e a cada segundo. e isso quer dizer sabe o quê? que o brasil está crescendo, saindo da mamadeira, cuidando da própria saúde.

a coisa tá chegando, minha.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

cognome beija-flor

o garoto negro de 11 ou 10 anos passa rente e dispara: "ei, tem que ficar atento!". eu abro um sorriso, indico que sim com a cabeça. ele segue adiante, volta, me reolha e dispara outra vez, subvertendo a fonética à moda de carmen miranda:

- uéru from?

abro um segundo sorriso, respondo em dentes:

- ô! eu sou daqui mesmo!

agora é o sorriso dele que se abre, em pontos de exclamação e de interrogação:

- ah! é baiano que nem a gente?!

conduzo que sim com a cabeça, sim, sim. ele estende a mão espalmada para que eu estale na dele, num "toca aqui" entre camaradas. eu bato, trocamos polegares e impressões digitais, sorrio e arremato: "certo, mano!".

ele segue adiante, faceiro, baiano, carioca, paulista, paranaense, catarinense, gaúcho. está nascendo um novo líder no morro do pau da bandeira, no gogó da ema, no curuzu.

@

miúdo, o garoto negro de 10 ou 9 anos cumpre o seu número: ele é um artista, tá na cara. é malabarista, faz maravilhas com três bolinhas que se movem alternadas e pairam suspensas no ar qual beija-flores.

não, a cena não está descrita com propriedade. rebobina, reenquadra.

miúdo, o garoto de negro de 10 ou 9 anos faz o seu número: ele é um artista, tá no corpo. é malabarista, faz maravilhas com três cocos verdes de água já bebida por alguém, que se movem alternados e paralelos e pairam suspensos no ar, qual favos de mel e beija-flores.

de longe o menino já sabe que estou amirando seu espetáculo, admirado. vem em minha direção, sorriso largo estampado na cara e na cabeça. aponto para meu muque para dar a entender, por gestos à la carmen miranda, que é espantosa a força de seus bracinhos magros. sorriso largo estampado no corpo inteiro, ele faz pose de popeye, nutre seu espinafre espiritual, aperta um muque que se estufa à prova de seus 10 ou 9 anos e à prova da magreza de menino.

lanço um mísero real, como a arte é barata (e não raro confundida com esmola) neste brasil de meu deus. penso em cuba, penso em são paulo, penso em salvador.

o menino vai faceiro retomar seu balé de balangandãs, de pesados cocos verdes que ora se seguram simultâneos em suas duas mãozinhas, ora se suspendem simultâneos no ar sob a regência certeira e precisa do pequeno maestrinho. está nascendo um novo líder no curuzu, no jardim ângela, na rocinha, na cidade de deus, nas cidades de meu deus todas plantadas no brasil.

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majestosas em trajes míticos de baianas que são mães de carmen miranda e são filhas de carmen miranda, as mulheres negras rodopiam o samba de roda do recôncavo. percussão masculina ferina felina, vocais corais, rendas & xitas, "tu não faz como um passarinho que fez o ninho e avoou, voou, voou...". meu coração faz chica-chica-boom-chic(& brega).

a sambista líder puxa para a roda as moças fãs do pé do chão. as moças e os moços. ansiosas como todas as meninas (as brancas, negras e todas as intermediárias), e os meninos também, a(o)s fãs rebolam furiosa(o)s, e a imagem global da mulata globeleza se materializa diante das baianas "de raiz", diante das moças e dos moços que não ousaram entrar na roda, dos baianos e dos estrangeiros: a miséria platinada global, a vergonha alheia, a auto-vergonha retida dentro de cada um.

nicinha, a baiana-sambista-líder, baila seu solo, o sorriso caymmiano pendendo soberbo do rosto e do corpo. você então olha o rosto de nicinha, ele parece imóvel, está quase imóvel. você mira os ombros e os quadris de nicinha, eles pairam no ar qual beija-flores (ah, quisera o helicóptero...), semi-imóveis. você olha de soslaio as ancas anti-carla perez de nicinha, elas nem parecem rebolar. você se fixa nos pés de nicinha, eles mal se locomovem, numa câmera-lenta que é o avesso completo da fúria globeleza, que não faz o tchan e é anti-carmen miranda em quase tudo, o que é que a baiana não tem?, o que é que a baiana não terá?

mas logo a seguir você congela na memória o sorriso caymmiano de nicinha e lhe enquadra o corpo inteiro. harmoniza a cena dentro do coco duro e troca as partes pelo todo. o corpo de nicinha está em pleno movimento, ele inteiro. o olhar magnético da líder carismática (mas não messiânica) banha o ambiente. ela capturaria a atenção até de um beija-flor que resolvesse passear zunindo por ali em busca de néctar e pólen.

na bahia(-minas) de tom zé(& ana carolina), onde cada homem sozinho é a casa da humanidade, o samba de roda e os movimentos de nincinha explodem e implodem, lerê, lerê, no bairro bem central do pelourinho. do pelourinho.

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no pátio externo da escola pública na periferia de salvador, o terno de reis evolui composto apenas de pequenas rainhas, princesas, xicas, carlotas, antonietas de 14 e 15 e 16 e 17 e 18 anos. ali ao lado, meninas negras de 7 e 8 e 9 e 10 e 11 e 12 e 13 anos empreendem um desfile de roupas de motivos africanos, baianos, brasileiros, estrangeiros, parisienses.

resplandece o contraste entre a pele preta e o amarelo de batas que são biquínis. uma a uma, as pequenas evoluem na passarela de asfalto, de cimento de pátio. uma a uma, elas reproduzem em motivos negros as poses & passos & truques & cacoetes da loura gaúcha gisele bündchen, carmen miranda oxi-pós-pós-modernizada.

e a africanidade fashion implode e explode no bairro pobre da liberdade. da liberdade.

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aliás, bairro, não. comunidade. a comunidade da liberdade, o subdistrito do curuzu, a casa cultural do ilê aiyê. passarela de ladeiras para a população autóctone e palanque de desfile para trupes de gringos do brasil e do mundo, que passeiam planos pelas sinuosidades de salvador. a comunidade a tudo assiste e se cala.

você não gosta do som do ilê aiyê? ora, madrugada já rompeu, já não é mais hora para futilidades. fique fixado o decreto: é fútil gostar ou não gostar do ilê aiyê. não mora nem nunca morou aí o xis do problema, nem o ipsilone das soluções.

não há mais xis, nem ípsilon, nem a-e-i-o-urca. inscritos nos muros da liberdade, repetidos pelas bocas do curuzu, retumbados nos tambores e nos debates do ilê aiyê, outras palavras & expressões & frases & sons & imagens são constantes, renitentes, ribombantes. aqui, neste auge turbulento de era lula, é impossível andar pela liberdade sem ouvir & ver & sentir motes & emblemas como estes que o branquelo de maringá reproduz aqui, mas que pairam quase parados no ar, codinome um bilhão de beija-flores:

- zumbi dos palmares

- movimentos sociais

- comunidade

- diferença, sim; preconceito, não

- se o poder é bom, eu quero ter poder

- favela unida

- candomblé

- hip hop

- orgulho negro

- zumbi dos palmares

- consciência negra

- minorias

- zumbi dos palmares

- zumbi dos palmares

há um outro mote, que não está nas ruas do curuzu, mas ribomba no coco, na água do coco. alô, carmen miranda-portugal-rio-hollywood, alô, seu jorge do brasil: moro no brasil, não sei se moro muito bem ou muito mal, só sei que agora faço parte do país, (vinicius de moraes que nos desculpe, mas) a inteligência é fundamental.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

a trilha invisível do sucesso na tevê

ufs, correria danada aqui. mas olha só, retomando.

série jabá vol. iii, "carta capital" 367, 9 de novembro de 2005. o papo agora é a tv aberta de alto alcance, na conjuntura dos faustões e gugus que você tão bem conhece, das globos e sbts do pedaço, daquele mundão de editores "inteligentíssimos" que acreditam que seu espectador "médio" é um tipo assim bem parecido com homer simpson (quem aí leu a espetacular brasiliana desta semana, "de bonner para homer", assinada por laurindo lalo leal filho?).

[para bem do nosso contexto, convém lembrar que outro dia a joelma, da banda calypso, deixou escapar que o programa de gilberto barros era o único que, no início da carreira do grupo paraense, não tinha o hábito de cobrar por apresentações em seu minifúndio na telinha dourada. é o avesso, em vários sentidos, do que afirma magrão na reportagem abaixo; e parece que a própria joelma já se desdisse, depois do dito (ou não dito). enfim...]


A TRILHA INVISÍVEL DO SUCESSO NA TEVÊ

Por Pedro Alexandre Sanches

Como se fabrica o sucesso musical a partir de um programa televisivo popular? Poucos saberiam responder melhor a uma pergunta como essa que o diretor Roberto Manzoni, que perambula pela tevê brasileira desde 1967, quase sempre em íntimo contato com o comunicador Silvio Santos.

Funcionário do SBT durante 33 anos e diretor dos programas apresentados por Gugu Liberato, Magrão (como é mais conhecido) foi o condutor da programação musical que ajudou a moldar, principalmente nos domingos, o gosto popular brasileiro.

A arquitetura e a construção dos sucessos musicais que impulsionam a audiência dos programas e vice-versa permanecem como um segredo guardado dos espectadores comuns e alimentados, muitas vezes, por acordos comerciais entre emissoras e gravadoras, invisíveis a olho nu pela tela da tevê. No porão mais oculto dessa construção mora o tabu do jabaculê, a promiscuidade não declarada entre espaços artísticos e espaços publicitários.

"Eu não tenho jabá, nunca fiz jabá, mas, sim, usei a disponibilidade das gravadoras para poder viabilizar as minhas coisas", afirma Magrão, figura especialmente visada pelas batalhas por audiência que comandou com Gugu, contra o global Fausto Silva.

"Em tevê, o jabá que tem ou que tinha é 'uma mão lava a outra'. Não tem jabá. O pessoal fala que para tocar em rádio custa R$ 50 mil, R$ 20 mil, R$ 10 mil, R$ 5 mil, R$ 1 mil. Quanto a gravadora teria que vender para pagar isso? Seria muito disco, então isso é mentira, pô. Até pode existir promoção, ajuda, mas 'jabatear' acho muito difícil", ele continua.

Ele próprio relata exemplos abundantes do que chama de "uma mão lava a outra". "Não é que a gravadora dê um dinheiro para você botar o artista no programa, nada a ver. Eu e Gugu fomos para Nova York fazer uma entrevista com Whitney Houston. A gravadora pagou a viagem, tudo direitinho. Era legal, porque era uma grande matéria com exclusividade, e a gente aproveitava a carona e gravava a Estátua da Liberdade, fazia reportagem com brasileiros que trabalhavam lá. Beneficia todo mundo, é bom para o programa e para a gravadora."

Outro exemplo: "Fui para a Argentina ver Ricky Martin, tinha gente da América Latina inteira, de tevê, rádio e imprensa escrita, por quê? Ele ia fazer turnê pela América Latina, e estava sendo bancado pela multinacional, pela matriz, pela mãe das gravadoras".

Mais um, localizado em território sagrado e constatando a crise de liquidez em que se encontra hoje um mercado fustigado pela pirataria e pelo avanço da internet: "A gente ia com Padre Marcelo a Jerusalém, para fazer uma matéria fantástica, tudo pago pela gravadora do padre Marcelo, em promoção. Agora não tem mais grana, não pode fazer mais. Hoje em dia raramente você vê uma gravadora gastando grana."

Magrão discorda que acertos como esses promoveriam uma sociedade informal e potencialmente nociva ao espectador, que fica sem enxergar os nexos entre quem fabrica as músicas mais populares de um artista e quem fabrica os programas mais assistidos de uma rede de tevê.

"Não é uma sociedade, de jeito nenhum. Eu sou da época da tevê, com Silvio Santos, em que a gente pagava cachê para todos os artistas. Todos cantavam no gogó, com orquestra ou conjunto. Não tinha nenhum dublando, mas o playback chegou para dar mais qualidade", começa a explicação.

"Hoje, não, porque as gravadoras e os artistas têm interesse em fazer. Uma apresentação num programa top de linha, que dá 20, 30 pontos de ibope vende disco para caramba. Não tem cachê, o que a gente ajuda às vezes é a pegar o cara no aeroporto, oferecer alimentação, dividir com as gravadoras despesas de hotel e passagem", conclui.

Magrão opina sobre o episódio de iPods oferecidos pela gravadora Warner a jornalistas que iriam entrevistar a cantora Maria Rita: "Acho que deveriam ter aceitado, é babaquice não aceitar. Se o cara vai lhe dar um presente, ele não está comprando você. Tem jornalista que fica magoado de ganhar um presente caro, mas ao mesmo tempo vai a uma churrascaria e come de graça. Qual é a medida de ética?"

No livro Os Bastidores da Televisão Brasileira, que lançou há pouco, Magrão relata outro tipo de aliança entre as duas pontas complementares da indústria "cultural". É quando conta a ascensão do grupo adolescente KLB, integrado por três filhos de Franco Scornavacca, à época empresário de Zezé di Camargo & Luciano.

O Domingo Legal queria a dupla sertaneja em sua tela, e o empresário desejava emplacar o KLB. "O Gugu liberou, aprovamos o acerto e o Franco vetou o Zezé no Faustão. Para nós e para o KLB a negociação foi ótima. Lançamos o trio, e hoje eles são um megassucesso", escreve Magrão, expondo o pano de fundo gritante da guerra pela audiência entre Globo e SBT.

Em 2003, picos extremos resultaram dessa guerra, e a campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania imprimiu mais pressão sobre o populismo dominical. Contrário à idéia de reduzir a dita "baixaria" no Domingo Legal de Gugu, Magrão passou a se incompatibilizar com o SBT. Ironicamente, pediu demissão poucos dias antes de o programa forjar uma entrevista com supostos integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), episódio pelo qual Gugu responde a processo criminal ainda em tramitação.

Após a crise causada pelo episódio, foi reconvocado por Silvio Santos, mas poucos meses depois seria ele o demitido. "Eu ganhava R$ 68 mil, e propuseram reduzir para R$ 28 mil. Respondi que não aceitava."

Do trauma da demissão (relatado por ele no livro), ergueu o empreendimento de estrear um programa próprio, ser o Silvio e o Gugu de si mesmo. "Antigamente eu queria dar 30 pontos de ibope, hoje em dia com três eu estou satisfeito", afirma, sobre O Poderoso Magrão, que há quatro meses comanda, coladinho com o Gugu, nas tardes dominicais da Rede Gazeta.

CartaCapital testemunhou uma gravação do novo programa (ele não vai ao ar ao vivo), no fim da noite de terça-feira 1. Sem muito timing de apresentador, Magrão enfrenta o desafio caracterizado, com a banda de apoio e demais auxiliares de palco, em trajes de O Poderoso Chefão.

Da sala de controle, o diretor interrompe a gravação e brinca ao microfone com a equipe. "Espera aí que a Sol [personagem da novela global América, em seus últimos momentos] está se afogando. Está dando 65 pontos", diz, antes de começar a relatar a audiência de cada emissora naquele minuto.

Agora é brincadeira, mas no domingo a maquininha de medir ibope irá funcionar. "Se estou dando 3 pontos e cair para 1, acabou. Ninguém mais vai querer vir ao programa", diz Magrão, que naquela noite recebia o Axé Blond, o novo projeto de samba de um dos ex-integrantes do grupo adolescente Br’oz, o rei do brega dos anos 70 Baltazar e as funkeiras cariocas da Gaiola das Popozudas.

"Hoje sou um cara pequenininho. Trabalho com artistas medianos, e de vez em quando vem um ou outro nome maior. Já trouxemos Kelly Key, Rastapé, Falamansa, Frank Aguiar. Vou ser sincero, no início pensei que ia trazer a galera grandona, mas senti a retração e me manquei", relata os novos tempos.

"Não tenho verba nenhuma. Não pago nada, nem passagem, nem hotel. Já deixei de pôr bons artistas porque o cara dizia 'Magrão, custa quatro paus para trazer', quer vir a São Paulo com o empresário, o tio, a avó, a mãe, o hotel, o carro. Digo 'obrigado', não pago porque não posso pagar."

Magrão fica triste com os "grandes" que debandaram? "De maneira nenhuma. Ajudei muitos deles, mas fico na minha. O mundo gira e a lusitana roda, amanhã posso estar dirigindo um grande programa", responde, vestindo a capa ameaçadora de "Poderoso Magrão".

"Todo mundo pensa que os grandes nomes são bacaninhas. Não são bacaninhas, não. Só fazem o que querem, só fazem o que a gravadora quer. Nunca falam 'não', nenhum artista de nome falou 'não' para mim. Mas dizem que naquela data têm show, que têm que fazer Faustão primeiro. Eu não estou nem aí."

Embora afirme não relacionar o encolhimento da indústria fonográfica (e dos respectivos excessos) com sua própria retirada da linha de tiro do ibope, Roberto Manzoni reflete sobre o novo status. "Se ficar falando aqui, é muito terror, só fui descobrir isso quando saí fora do SBT. Estou vendo o mundo e o meio artístico de outra forma", avalia, de fora, o cenário de isopor que ajudou a construir.